Há
muito eu me pergunto se vale a pena manter um blog em pleno 2021. O formato do
que chamamos genericamente de “blog” mudou radicalmente na última década,
sobretudo com a chegada de redes sociais como o Instagram. Se você é tão
saudosista quanto eu, certamente se lembra com carinho de nomes como myspace e livejournal,
não é mesmo?
Lembro-me
da época em que as pessoas não só escreviam longas postagens em seus blogs
pessoais, como também comentavam nos blogs umas das outras, com réplicas e,
muitas vezes, tréplicas, as quais eram lidas por vários usuários engajados na
discussão. Foi a época dourada da internet.
Quem
viveu isso tudo sabe o quanto as coisas mudaram da década de 2010 para cá. Os
criadores de conteúdo (e, por favor, não coloquemos os criadores de conteúdo no
mesmo balaio dos influenciadores digitais, existe diferença!!), em sua grande
maioria, migraram para o YouTube, formato que tomou o espaço dos famigerados
blogs com um tipo de mídia muito mais fácil de ser consumida pelo grande
público. Embora não seja fácil roteirizar, gravar e editar um vídeo, convenhamos
que assisti-lo é muito mais fácil do que ler um texto, certo?
Na
mesma leva, outros formatos de blog centrados em imagens ganharam espaço, alguns
mais de nicho, como o Tumblr, e outros mais populares, como o Instagram. A
partir desse momento, as pessoas passaram a fazer uso quase que exclusivo de
imagens e vídeos para mostrar o seu dia a dia, os chamados vlogs. Como escrever
dá trabalho e fazer vídeos rende mais viewers, o formato de blog tal como conhecíamos
definhou.
O
fato é que é muito mais fácil alimentar uma rede social apenas com imagens,
textos curtos e hashtags do que escrever textos bem estruturados. Não estou com
isso desmerecendo esse tipo de conteúdo. Eu tenho uma vaga noção do quão
trabalhoso é criar esse tipo de mídia, pois, além de habilidade, é preciso
investir em equipamentos, tais como câmera fotográfica e um bom kit de lentes; sem
falar nas noções mínimas de como usar programas de edição de imagem, e por aí
vai.
Contudo,
não deixo de achar um tanto prejudicial essa impaciência que as pessoas têm ao
se depararem com textos um pouco mais longos. A preferência é por conteúdos
fáceis de digerir, rápidos e que não exijam muito esforço. Pergunte-se: qual é
o esforço que você faz para navegar pelas belas imagens do Pinterest? Agora,
garanto que ao se deparar com blocos ligeiramente grandes de texto em um site,
você “salta” os olhos por entre o texto na busca de palavras-chave, não é? As
pessoas não têm mais tempo para “perder” com textos longos, por isso, é preciso
criar um conteúdo seco, rápido e esteticamente atraente. Não é à toa que a
geração Z assiste a videoaulas usando o recurso do “speed watching”...
Hoje,
dificilmente uma pessoa conseguirá atrair um público que consuma textos nos
quais ela fala sobre si sem que, primeiramente, tenha conquistado pessoas por
meio de uma imagem capaz de “fisgá-las”, por assim dizer. As chances de você
ter poucos seguidores é grande se você é do tipo que prioriza textos em vez de
imagens.
E,
mesmo os sites que ainda sobrevivem com textos precisam render-se ao, amado por
uns, odiados por outros, SEO! Ah! Quem já trabalhou com produção de conteúdo em
redações sabe a chatice que é ter que produzir um texto que se encaixe dentro
da caixinha dos mecanismos de busca. Para quem não faz ideia do que seja SEO (a
ignorância é uma benção!), de modo exageradamente resumido, trata-se de um
conjunto de técnicas usadas para fazer com que um site seja bem ranqueado nos mecanismos
de busca. Sabe aqueles textos com parágrafos curtos, palavras-chave repetidas
ao longo do texto e uso de títulos e subtítulos? Bom, você já deve ter visto
por aí 😜
Por
vezes pensei em abandonar o blog, afinal, quem vai lê-lo? Tirando uns gatos
pingados aê que eu conheço, são poucas as pessoas que visitam e efetivamente
leem os textos. Mas, diante de algumas reflexões, achei que seria incoerente da
minha parte deletá-lo. Se eu quero que o modelo “antigo” de blogs continue a
existir, ainda que em redutos de saudosistas, nada mais justo que continuar a
produzir textos the old way.
E, veja, não se trata de renegar o que é novo. Eu acredito que, semelhante ao que
fazemos no mundo real, em que compramos roupas antigas em brechós, fazemos uso
de toca-discos e tentamos reproduzir sensações do que acreditamos ter sido vivido
pelas gerações anteriores a nossa, podemos continuar a experienciar o que a
internet tinha de bom no passado e que, hoje, está “démodé”. Assim, pessoas que
não viveram a “nossa época” também podem conhecer e desfrutar daquilo que ela
tinha a oferecer.
Da
mesma forma que hoje pessoas alternativas com os braços cheios de tatuagem desfrutam
de um sincretismo estético que mistura trajes de camponeses europeus do século
XVIII com moda pin up da década de 1950 (utilizando redes sociais para divulgar
seu estilo), podemos escrever blogs à moda antiga, divulgando-os nas redes
sociais do momento na esperança de encontrarmos leitores que sintam falta do
formato antigo.
Por
isso... resistamos!