A bruxa Haya, interpretada por Cássia Kis. |
Escrita por Ana Paula Maia e filmada na serra catarinense, a
série de suspense/terror nacional promete agradar fãs de nomes como Midsommar, A Bruxa e Stranger Things.
Produzida pela globoplay,
Desalma toma como gancho narrativo o ritual pagão de Ivana-Kupala (festividade eslava
que ocorre no solstício de verão), realizado por descendentes de ucranianos na
pequena cidade fictícia de Brígida, local que serviu de palco para o desaparecimento
de uma jovem no ano de 1988.
Envolta neste mistério inicial,
a série se desenvolve a partir dos conflitos geracionais entre duas famílias, os
Skavronsky e os Burkos, centrando-se em três mulheres: Haya Lachovicz (Cássia
Kis), Ígnes Skavronsky (Cláudia Abreu) e Giovana Skavronsky (Maria Ribeiro).
Após o suicídio do patriarca da família, Roman Skavronsky, Giovana se muda para a cidade de Brígida com suas duas filhas nas vésperas da comemoração do famoso ritual pagão. Paralelamente, coisas estranhas começam a acontecer com o filho de Ignes, amiga de infância de Roman. Ao revirar o passado, Ignes e Giovana descobrirão que os acontecimentos estranhos que vivenciam têm forte ligação com um segredo terrível do passado.
Inspirado em produções como A
Bruxa (2015), Dark (2017) e Midsommar (2019), a fotografia da série supera
expectativas, contando também com uma trilha sonora caracterizada por synths
oitentistas que remetem a Stranger Things.
Assisti a série pouco tempo após o lançamento e recomendo para quem curte bruxaria e paganismo europeu.
Dos pontos positivos da série eu citaria a fotografia, que ficou simplesmente magnífica! Imagine o cenário de Dark (a cidade pequena rodeada por florestas) habitado pelos cultistas de Midsommar dançando em torno da fogueira com suas coroas pagãs de flores. A única diferença é que o aspecto colorido do último não foi colocado em Desalma, na qual predominam tons... macabros O.o Não que Midsommar não seja coloridamente macabro.
A trilha sonora da série foi feita por ninguém menos que o cara responsável pela OST de Dark. A música casa tão bem com a ambientação da série que chega a dar arrepios. Outro ponto excelente foi a representação da cultura eslava, que contou com a introdução de criaturas míticas (como as terríveis malkas), da música, comida e dança folclórica, além das maravilhosas pinturas decorativas feitas em ovos, conhecidas como pisanka. O roteiro também conta com muitos diálogos em ucraniano * -*
Contudo... nem tudo são flores. A produção também conta com vários pontos negativos que acabam atrapalhando bastante a imersão da narrativa. O que mais me incomodou foi o didatismo exacerbado do roteiro: em vez de apenas apresentar os fatos e deixar que o telespectador ligue os pontos entre os acontecimentos, a série entrega tudo de forma exageradamente didática. As personagens explicam diversas vezes a mesma coisa e não há de fato espaço para formulação de teorias sobre nada. Quando você acha que algo vai ficar em aberto para exploração, algum personagem logo explica o que está acontecendo. E por mais contraditório que possa parecer, quando eles tentam criar suspense, acabam demorando muito pra revelar algo que todo mundo já sacou. Os diálogos são bem fracos e apresentam muitos vícios da globo. Por vezes tive a impressão de estar assistindo a uma novela. Acho que esse é um ponto a ser melhorado na temporada.
A atuação do elenco sênior (Kassia Kis e Cláudia Abreu dispensam comentários!) contrasta bastante com a do núcleo jovem, que certamente precisa melhorar um pouco na questão da expressividade.
Outra coisa que não gostei foram algumas cenas bem desnecessárias de referências a alguns filmes de terror que não serviram de nada para a narrativa e ficaram totalmente soltas no meio das cenas, apenas como referências vazias.
Acredito que ressaltei mais pontos negativos do que seria o esperado para uma recomendação de série, mas achei que eram pontos pertinentes que qualquer fã acostumado com produções inteligentes como Dark e Midsommar deveriam saber. Apesar dos pontos aqui citados, vale a pena conferir, até mesmo por ser a primeira produção nacional deste naipe. A série já foi renovada para uma segunda temporada e eu espero que os produtores melhorem a parte da narrativa.
É caro que nenhuma produção é perfeita, e considerando os pontos positivos e negativos de Desalma, certamente os bons se destacam.
No mais, se você curte cenários bruxescos, florestas macabras, crianças bizarras e temática pagã europeia, Desalma certamente é uma série pra você! A seguir, o trailer oficial: